quinta-feira, 24 de setembro de 2009

04/09/2008


A tarde é muito chata. Estar em casa é na verdade algo chato – me refiro a minha casa em especial; por mais que eu goste – Luís! Vem ver o Richard[*]: “Peixes exóticos” . E meu pai passa o resto da reportagem sabendo mais que o repórter. Em verdade, descobri que existem três lugares na vida do poeta: A Biblioteca, o Bar, e a Cama – onde necessariamente somente na última é imprescindível a companhia. Se bem, que no bar a companhia é por muito pouco dispensável – por muitas vezes a companhia da cama começa por lá -; e sendo sincero, o único lugar que prefiro realmente a solidão é na Biblioteca: tenho ciúmes de minhas leituras. No Bar inclusive, o dito: “antes só do que mal acompanhado” se torna aplicável em todas suas circunspeções – e por isso a companhia é por muito pouco dispensável -: dependendo da companhia falo normalmente besteiras demais. Cheguei à conclusão: “acertar por acaso é errar a prazo” – mais cedo ou mais tarde a casa cai -; odeio pensar no Bar; Bar é pra falar besteira besta, não besteira teórica. E é ai que ta... Dependendo da companhia meu lado “besteira teórica” aflora a tal ponto que sempre erro a prazo; não fosse minha imposição estrutural dos textos explicitada em meus discursos seria na maioria dos casos escorraçado por minha mediocridade intelectual. Mas o que fazer se sou melhor ator que intelectual!? E por muitas vezes acredito estar falando com quem também não sabe o que está falando: Eles concordam! Pior ainda...: Pagam a cerveja que me mantém falando.
[*] Um desses biólogos televisivos que desbravam a natureza, e, por vezes acabam mortos por ela.

10/03/2008

Levantei então nesta segunda feira numa felicidade danada. Tudo por conta do dia inteiro – domingo - que dediquei de conversa junto a Juliana; a amiga do casal da festa de sábado. Conversa via internet, mas nem por isso menos interessante que a que já havíamos mantido durante a festa de um dia antes. Onde diga-se de passagem, dediquei todo o tempo a ela - Juliana.
Acordei com vontade de ligar para o celular qual ela havia me passado. Porém, na intenção de não fazer contato e avexar-me por falta de assunto, me contive. No entanto, queria arrumar toda minha vida nesta manhã. Colocar no lugar tudo quanto havia abandonado aos cantos. Veio-me a memória então o casamento de Adriano; amigo de longa data ao qual à sua esposa, havia eu prometido um jogo de rendas para o fogão e mesa respectivamente. Minha própria mãe confeccionou assim as ditas rendas, que por preguiça ou falta de ânimo, havia eu privado de entregar. Foi essa então a primeira coisa que resolvi tirar do canto e colocar no lugar onde de veras havia nascido para estar: a cozinha de Adriano e Camila, os recém casados e amigos ao qual guardava tanto carinho e afeição.
Contatei Camila e marquei um local para que fosse feita a entrega; sabia que ela trabalhava próxima a minha casa, e assim, foi fácil armar o encontro.
Frente a seu emprego – um escritório de contabilidade - nos encontramos. Antes de sua chegada ocorreram-me vários pensamentos do tipo: Seria esse rendado algo cafona? Receberia ela tal presente por pura educação e depois largaria o de canto por não encontrar utilidade prática? Desvencilhei-me do pessimismo com sua chegada.
A entrega foi rápida; perguntei sobre meu amigo e perguntas supérfluas que se fazem nessas horas de pressa sem motivo, e nos despedimos com promessas de ligações por parte do marido; o qual era grande amigo meu e rodeou quase que inteiramente a pauta de nossa breve conversa.
No caminho de volta pela avenida, saboreio um sentimento de dever cumprido; olho para o dia com uma alegria juvenil que a muito não me cabia. E lembrei de Juliana. Seu sorriso, seu cabelo, seus olhos me distraiam então do mundo que hoje era tão belo e gentil. Foi nesse turbilhão de pensamentos felizes que meu nome invade minha mente por parte de terceiros: Era Arthur; outro amigo meu; este namorava Nathalie, irmã da namorada – Nagila - de meu primo e grande amigo Digão.
Cumprimentamos-nos e serrei-lhe um cigarro. Perguntas idiotas foram feitas do tipo: como vai? Como está isso? Como está aquilo... E enfim, fez-me ele uma pergunta que me tirou um pouco de meu céu astral: Porque você não foi à praia com o pessoal neste final de semana? Aquilo me atingiu com um peso estranho. A primeira coisa que me veio à cabeça é que de fato não deveria ter ido; caso contrário não teria conhecido Juliana. O que me incomodou de veras foi o fato de não ter sido comunicado; pior, não ter sido lembrado. A conversa não se estendeu muito e peguei meu rumo. Com a cabeça agora na praia.
Comecei pouco a pouco a ver minha imagem desaparecendo das fotos dos amigos; depois pouco a pouco das cabeças, das lembranças, e logo eu não seria mais que um antigo conhecido que ninguém recorda a presença. O dia lindo começou a escurecer e me lembrei das palavras de Peter Pan – filme que havia assistido no domingo – Pensamentos ruins te levam para baixo! E de fato estavam me levando. Minha alegria começava a transformar-se em medo. Medo de não ter amigos. Ou pior, ter amigos que não mais seriam meus amigos; pelo menos no sentido de proximidade da frase.
Cheguei ao portão de casa e uma única solução saltou-me as idéias: Olhar mais uma vez a foto de Juliana; Esperar que a companhia dela um dia se metamorfosearia na redenção da ausência de amigos, e não mais me importaria em não tê-los. Somente ela, me bastaria.
Olhei então sua foto postada na internet. Meu dia voltou a brilhar. Não pelo amor que ela me guardava; mas pela esperança de fazê-lo nascer.