quarta-feira, 23 de abril de 2008

Seria em Platão?

Seria em Platão?
Que eu encontro o motivo de tanto amor?
Ou seria tua voz soando incessante na ilha?
Tua imagem em minhas linhas;
sua beleza em minha ode?

Pode?
No silêncio amar tua voz?
Se no silêncio ela cresceu
e feneceu entre nós!

Seria só no eu?
Que se instalou você;
e só em mim nasceu,
o amor
que imóvel
morreu...

Morreu?

domingo, 20 de abril de 2008

Uma ligeira contração dos músculos faciais.

Uma ligeira contração dos músculos faciais.
Ela utilizava como arma de persuasão; mais eficiente que qualquer tortura ou droga da verdade, era impossível negar pedido qualquer que fosse partido daqueles lábios auspiciosos da recompensa de seu sorriso. Perfeição é lugar comum. Mas cabe.
O brilho que ocupa os dois hemisférios de seu rosto são verdes e profundos, como o oceano iluminado pelo último ansiar da estrela que desaparece a oeste.
Olhos. Boca. Corpo. Você... É como se eu próprio a tivesse desenhado no mundo enquanto posava em meu sonho, onde era tão minha que hoje invejo sua existência perante todos. Tão distante e impalpável lúcida, como quando era espectral.
Hei de mudar. Ou nunca mais acordarei.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

?!...

Já pensou?
Já!
Como?
Como sempre!
Pensou o que eu penso?
Penso o que eu penso!
Só?
Só!
Só quando está só?
Não somente só!
E agora?
Só penso o que penso!
E o que penso?
Não penso!
Mas pensa de mim?
Penso!
E o que pensa?
Penso se pensas de mim!
E o que pensa?
Que não pensa!
Porque não pensaria?
Porque ninguém pensa!
Nunca pensei nisso...
Nunca?
Nunca!
E agora o que pensa?
Que se não pensasse, nada mudaria!
Nada?
Nada!
Não pense!
Não!
Nunca?
Nunca!
Mas como não pensar?
Já pensou?
Já!
Como?
Como sempre...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

“питья Пиво?”

Ouvi dizer que o idioma húngaro é o único que o diabo respeita. No entanto, nesta manhã foi o russo que me deu medo. Duas palavrinhas em russo - estavam introduzidas por um texto em italiano, mas esse só me incomodou – eram elas:
“питья Пиво?” e “поцелуи !”
que respectivamente querem dizer: “Bebe cerveja?” e “Beijos !”. Elas logicamente estavam dispostas em mensagens distintas, - a do cara em primeiro; a da mina em segundo - onde você leitor, como um bom entendedor, deve ter percebido o intuito das mensagens. No entanto, quem lê não busca enigmas, então é meu dever abrir o jogo e contar que o contexto geral é a baliza de um encontro.
Meu medo é que ainda nem bem domíno o português... Impossível seria competir com alguém que corteja em russo; e introduz em italiano...
дерьмо

sábado, 12 de abril de 2008

Vitória

Aquela altura me perguntava por que havíamos nos casado. Deitados de conchinha em um sofá apertados e cobertos com uma manta fina e batida, me perguntava não pela questão em si, não com sentido de arrependimento, me perguntava por curiosidade de saber em qual ponto da história decidimos que isso seria o melhor a fazer. Na verdade acho que nem nos amar de verdade nos amávamos, estávamos acostumados as nossas companhias; e já não fazíamos amor há umas duas semanas. Também pudera, morávamos num quarto e cozinha que quase não coube uma cama de casal e hoje estávamos tão envolvidos na nossa falta de envolvimento que hora por birra, hora por vontade ou falta dela, nos ignorávamos por horas e horas seguidas. Vitória eu conheci na faculdade, e ela nem era a que mais me chamava a atenção e tenho certeza, eu também não despertava alvoroço algum na sala. Revolucionários e militantes vagavam pela classe tendo seus ideais empunhados como armas e eu nem sequer atirava. Meus amigos me alertaram por diversas vezes que estava me precipitando; amigos? Há tempos também não sabia o que era amizade, fui o último a me casar e talvez a culpa seja disso. Via-me sempre, horas me masturbando sozinho, assistindo tevê sozinho, comendo sozinho, acordando sozinho, dormindo sozinho; quando vi a oportunidade de acabar com essa solidão, amor foi a última coisa que me passou pela cabeça. Como eu passei de um músico frustrado a um escritor fantasma nem eu sei; e também não me perdôo. Sempre tive tanto medo do fim que nunca acabei nada. Nunca tive facilidade em largar as coisas; aliás, minha banda nunca acabou, nenhum de meus namoros acabou, perdia as canetas antes que elas acabassem; nem meu cigarro eu acabava, simplesmente abandonava no cinzeiro, e esperava apagar por si só; e aquela altura, me perguntava se não era exatamente isso que estava fazendo com Vitória.

Gelatina de Melancia

Achava-me mais ridículo a cada escrito que lhe dedicava. Passava o dia frente ao monitor elaborando textos e mais textos em sua homenagem, e hoje não foi diferente. Tirava os dedos do teclado hora em vez, somente para “beliscar” uma gelatina de melancia que passei o dia todo engolindo. Meus dedos deslizavam fáceis no teclado, como se estivesse transcrevendo minha alma inteira pra ela; contando tudo quanto existiu em minha vida, esperando que algum fato lhe chamasse a atenção e a fizesse responder meus recados; sabia que essa prática somente a colocaria gradativamente mais distante. Porém, não podia evitar: nem escrever para ela. Nem a gelatina de melancia.

ELA OLHAVA O MAR

Ela olhava o mar,
com seu cabelo preso em “rabo de cavalo”. O ombro esquerdo vazava o vestido que lhe assentava o corpo; leve. Com os pés enfiados sob a areia olhava o céu azul e branco refletido no mar; verde como seus olhos, iluminado pelo sol castanho claro, como seus cabelos. Sentada naquele espetáculo, sozinha, parecia distante como a primeira estrela que despontava na abóbada celeste; estrema como a nuvem avermelhada frente ao febo poente. Ela olhava o mar. E o mar olhava de volta, fingindo ser pra si a poesia que exorava em sua presença.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Diazinho de Bo(sss)ssa

Eis que chega a sexta feira. E com ela, a promessa de mais um porre. Como são doces os amores de sexta feira. E como são lindas as meninas as sextas feiras. Mostram suas formas. Prontas e pintadas. Sobre seus saltos, ostentam seus decotes; rígidos e imponentes deixam salientarem-se os bicos. Lindos.
Ah... Como é lindo o sol de sexta feira, que não tarda a partir e dar lugar à lua; redonda, navegando o firmamento.
Como é gelada a cerveja. Como é quente à noite. Como é rápida a alegria...
E como demora o fim do expediente.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ir(...)Racional

Já tive momentos.
Momentos que em dias otimistas chamaria:
Bons.
Desejo?
É o instinto que mantém a espécie.
Amor?
É a carência acumulada exteriorizada em outro.
Racional?
É a maldição de descobrir isso!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

OBSESSO

Coração(...) Desejo(...)Obsessão(...)Teu beijo.

Coração.
Amor
Roubado e
Ornamental.
Livre de
Insignificantes
Nuvens
Alheias

Bondade.
Ordinária e
Resguardada.
Esconde os
Lobos
Libertinos e
Insaciáveis

Desejo(...)Coração(...)Teu Beijo(...)Adoração

terça-feira, 8 de abril de 2008

A mulher do inventor

Quando acordei, você acordou comigo.
Estava distante, mas mesmo assim acordou comigo.
Isso claro, depois de ter passado a noite inteira comigo.
Havia passado o dia todo também.
No trabalho. No almoço. No cigarro e no café.
Só você.
Comigo você ria das piadas.
Comigo andava de mãos dadas.
Íamos e íamos e íamos...
Eu te vigiava e sentia ciúmes de outros caras;
feliz. Pois você estava comigo. E no meu jeito de você estar comigo,
não havia viva alma que oferecesse perigo.
Só comigo você andava. E só em mim você vivia.

Não.

Não estive um segundo sequer com você.
Eu não estou em você.
Você suga de minha vida a sua?
Já não sei se realmente ainda sou eu,
ou se já me transformei em você.
Não sei se você nasceu na minha imaginação;
ou se me transformei em você para me imaginar.
Eu estou em você.
Vivo.
Embotado da vida que lhe dei.
Absorvendo-a pra viver;
em mim.

sábado, 5 de abril de 2008

PAI



Acará, Anduiá, Andubé, Apapá, Aramaré, Avaiú, Bacuri, Bererê, Biribiri, Bobó, Bodeco, Bozó, Cananã, Candiru, Canivete, Caracuru, Cundunga, Curimbatá, Guacari, Jacundá.
De tudo que é rio eu já vi o meu pai tira.
No anzol, na linhada, até na lançada...
Pescadô.
Pai e avô.
Ensinou-me pião.
Nó de sangue; laço e educação.
Me deu um cachorro; me acudiu e já deu esporro.
Me falta grafia.
Pra tua imensa antologia.
Então encerrar, é desculpa pra gente sempre continuar.
E pescar.

Leonard Tristem: Penso Logo... Conhaque



A noite é uma criança (de dezenove anos, seios fartos cintura fina e coxas grossas; cinta liga e saia curta...).

Aqui estou, num bar fúlero da Vila Madalena, sentado no balcão pois mesas já não há. O conhaque desce liso na garganta enquanto olho o papel em branco a minha frente; não há expiração, também pudera, não há mulher nenhuma nessa joça de lugar. Ao garçom designei a função de manter meu copo sempre cheio, porém, acho que esqueceu; ou talvez tenha sacado que não tenho um puto pra pagar a conta. Talvez esta seja a hora de partir; ir em busca de uma bem amada para acalentar esta noite de frio incessante. Levanto-me e sigo cambaleante rumo ao banheiro, onde como todo boêmio profissional sabe, tem uma janela sem grade. Opa! Uma rima. De repente uma frase inteira me surge à cabeça:
Todo boêmio poeteiro
Antes de beber já sabe
Qual bar tem o banheiro
Com janela sem grade.
Oh sim... Finalmente a inspiração começa a chegar. Pena ter chegado aqui em lugar tão deplorável. Com um pé na privada, e outro fora da janela na noite gelada. Sim, sim...Outra rima. Acho melhor correr para não perder o momento.
E então corri; corri vários quarteirões para despistar o garçom que sacou o meu plano. Corri tanto que cheguei na Augusta. Oh sim, a Augusta, o paraíso dos poetas bêbados. Nem bem comecei minha andada e já me deparei com minha aspirante à bem amada. Oh sim outra rima... Agora elas brotam em minha mente tal como os cogumelos brotam nas bostas de vaca no despontar de cada manhã, pelos pastos verdes e vastos caminhando de mãos dadas com minha querida... Anã...? É...tudo bem. Não da pra rimar muita coisa com manhã.
Aproximo-me daquele ser esplendoroso de coxas grossas e sinta liga, saia curta e peitos fartos. Declamarei uma poesia fulminante que a trará direto aos meus braços... De qualquer forma... Melhor usar um clássico:
Meu coração
Não sei por quê
Bate feliz
Quando te vê...
- Qualé mané? Tá afim de um programa? Já vou avisando, só faço na cama. A não ser que seja só uma chupada, ai pode ser aqui mesmo na calçada.
Oh que emoção minha bem amada é uma poetiza. Hora de jogar pesado.

Quem me dera ser um peixe!
Para em seu límpido aquário mergulhar
Fazer borbulhas de amor à luz da lua
Passar a noite em claro
Dentro de ti...
- Tá cherado? Pô um pá mim então!
Bi Bi...(buzina)

Infelizmente descobri que minha bem amada não passava de uma meretriz. Abandonou-me pelo primeiro Corsa 93 que a abordou. Segui até outro bar, que sei: não tem grade na janela também. Pedi um conhaque, grafei em meu bloquinho a epopéia de minha noite solitária:

Em noite fria e gelada
O que incomoda é o assento da privada
Porém, usei esta pra fugir
Do bar e chegar a ti.

Quando enfim lhe encontro
Com sua bolsa a rodar
Descubro que fazias ponto
Era preciso pagar

Porém não sou freguês
Soi amante apaixonado
Partiste num Corsa 93
Deixaste-me de lado

Em novo bar agora estou
E na mente sempre ela
A merda é que o dono se ligou
E pos grades na janela.

Leonard Tristem

K

Fui posto a meio caminho, entre a miséria e o sol.
Não tenho lugar, nem vontade nem tenho razão.
Composto ao contrario quase sustenido bemol.
Contradizendo-me incessante um sim ou não.
Pelo impossível desejo que quero e respiro.
Pela dor vã não por pouco desnecessária.
Pela vida mal-dada quase bato me retiro.
Dessa que esgota e já embarca aviária.
Mas isso não vem sobre e só pra mim.
Tão pouco, transforma o necessário.
Não por que quero, até vivo assim.
Só não carecia morrer por otário.
Não por que queres ireis até o fim.
Tão louca, tão vazia que ria, aviária.
Não isso não vem sobre e só por mim.
Dessa me esgota, ávida desnecessária.
Pela vida mal-dada quase bato me retiro.
Pela dor vã não por pouco, torna-se diária.
Pelo impossível desejo que quero e respiro.
Contradizendo-me incessante um sim ou não.
Composto ao contrario quase aceito o batismo.
Não tenho lugar, nem vontade nem tenho razão.
Fui posto no meio sozinho, entre vida, e egoísmo.

PARTIDO CINZA - Em Homenagem a brilhante idéia de Didi e William

Manifesto do Partido Cinza

Um espectro ronda o país, é o espectro da ecologia; que ameaça destruir nossa comodidade conquistada a tão duras penas. O Partido Cinza visa à vida do homem, um planeta construído pelo e para o homem, um mundo onde você não tenha de se preocupar com pestes e animais nocivos a nossa existência, doenças providas da natureza que em suma, só faz ofuscar o brilho da magnitude humana, devem ser combatidas duramente através de todo e qualquer foco de natureza não controlada; natureza esta que deve ser vista somente nos livros de história (ilustrando uma dura fase da existência humana) e condomínios fechados.
Nas palavras a seguir, ilustraremos e justificaremos as reivindicações providas do Partido Cinza, que antes de Partido, é humano; o ser soberano, topo da cadeia alimentar.

· Extinção de toda e qualquer vida natural não controlada
Não existe qualquer propósito para que animais e plantas existam num ambiente natural, sendo que por vezes, serve somente para nos apetecer a vista. E sendo assim, se tornarão infinitamente mais úteis sob nosso domínio.
· Cargos superiores a pessoas superiores
É provado cientificamente que existem seres humanos de capacidade intelectual superior ao resto da população. Estes, devem governar o mundo, pois somente eles, têm a capacidade necessária para corresponder as necessidades do povo; que em suma, não tem condição de decidir por si enquanto ser social.
· Casas populares construídas com a madeira da floresta amazônica
Esqueça essa história de “pulmão do mundo”, isso é balela desses abraçadores de lagoa que se preocupam mais com uma árvore, que não pensa, não sofre e não entende, que com um ser humano que toma como moradia, dorme e defeca nas ruas.
· Abolição da escola pública
Quem não tem condição de pagar o estudo, automaticamente não tem como colaborar com o Estado, um cidadão que não colabora com o Estado não deve ter como direito inato a educação. Em resumo esse aprendizado só lhes trará dor e insatisfação perante a uma sociedade a qual não entendem, nem podem entender.
· Controle de natalidade
O ser humano não deve se reproduzir de forma desenfreada. Um rígido controle de natalidade deve ser implantado, para que somente o numero necessário de pessoas estejam presentes no mundo.
· Aumento da carga horária trabalhista
O trabalhador tem condição física de trabalhar muito mais do que trabalha. Isso claro não deve ser visto como aumento salarial, pelo contrario, será somente um estágio de transição para geração de recursos para compra de maquinas que substituam totalmente a força de trabalho humano.

Temos outras reivindicações ainda a serem apresentadas. Reivindicações que trarão a paz ao homem desprovido naturalmente de condição, e trará poder para os lideres humanos. Porém, não me cabe agora citar as mesmas; acabo de perder três exércitos no Alaska e o colega senador prepara seu ataque a Vladvostok. Mas os colegas não perdem por esperar, tenho uma troca de cartas para fazer na próxima rodada e coloco mais oito exércitos para reforçar meu monopólio no continente europeu. Vou colocar dois exércitos na Califórnia e dois no México, para assim preparar terreno a conquista da América do norte, para descer para a América do Sul, passar para a África e invadir a Ásia. Vai ser ducaralho... War é o melhor jogo do mundo.

Insãnio Medeiros
Presidente do Partido Cinza.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O castro

No foco refléto da faca via-se o rosto nefasto da vaca.
Pérfida ação.
Em repouso ansioso de casto aleivoso pagou a paixão!
Do corpo que outrora na infida aurora sorvia o amor.
Num leito torto encontra-se morto o ator do rancor.
E o pinto murcho vermelho escarlate que se enfiou,
Em cochas alheias
não mais pulsa a veia
que a vaca cortou.