Aquela altura me perguntava por que havíamos nos casado. Deitados de conchinha em um sofá apertados e cobertos com uma manta fina e batida, me perguntava não pela questão em si, não com sentido de arrependimento, me perguntava por curiosidade de saber em qual ponto da história decidimos que isso seria o melhor a fazer. Na verdade acho que nem nos amar de verdade nos amávamos, estávamos acostumados as nossas companhias; e já não fazíamos amor há umas duas semanas. Também pudera, morávamos num quarto e cozinha que quase não coube uma cama de casal e hoje estávamos tão envolvidos na nossa falta de envolvimento que hora por birra, hora por vontade ou falta dela, nos ignorávamos por horas e horas seguidas. Vitória eu conheci na faculdade, e ela nem era a que mais me chamava a atenção e tenho certeza, eu também não despertava alvoroço algum na sala. Revolucionários e militantes vagavam pela classe tendo seus ideais empunhados como armas e eu nem sequer atirava. Meus amigos me alertaram por diversas vezes que estava me precipitando; amigos? Há tempos também não sabia o que era amizade, fui o último a me casar e talvez a culpa seja disso. Via-me sempre, horas me masturbando sozinho, assistindo tevê sozinho, comendo sozinho, acordando sozinho, dormindo sozinho; quando vi a oportunidade de acabar com essa solidão, amor foi a última coisa que me passou pela cabeça. Como eu passei de um músico frustrado a um escritor fantasma nem eu sei; e também não me perdôo. Sempre tive tanto medo do fim que nunca acabei nada. Nunca tive facilidade em largar as coisas; aliás, minha banda nunca acabou, nenhum de meus namoros acabou, perdia as canetas antes que elas acabassem; nem meu cigarro eu acabava, simplesmente abandonava no cinzeiro, e esperava apagar por si só; e aquela altura, me perguntava se não era exatamente isso que estava fazendo com Vitória.
sábado, 12 de abril de 2008
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