sábado, 5 de abril de 2008

Leonard Tristem: Penso Logo... Conhaque



A noite é uma criança (de dezenove anos, seios fartos cintura fina e coxas grossas; cinta liga e saia curta...).

Aqui estou, num bar fúlero da Vila Madalena, sentado no balcão pois mesas já não há. O conhaque desce liso na garganta enquanto olho o papel em branco a minha frente; não há expiração, também pudera, não há mulher nenhuma nessa joça de lugar. Ao garçom designei a função de manter meu copo sempre cheio, porém, acho que esqueceu; ou talvez tenha sacado que não tenho um puto pra pagar a conta. Talvez esta seja a hora de partir; ir em busca de uma bem amada para acalentar esta noite de frio incessante. Levanto-me e sigo cambaleante rumo ao banheiro, onde como todo boêmio profissional sabe, tem uma janela sem grade. Opa! Uma rima. De repente uma frase inteira me surge à cabeça:
Todo boêmio poeteiro
Antes de beber já sabe
Qual bar tem o banheiro
Com janela sem grade.
Oh sim... Finalmente a inspiração começa a chegar. Pena ter chegado aqui em lugar tão deplorável. Com um pé na privada, e outro fora da janela na noite gelada. Sim, sim...Outra rima. Acho melhor correr para não perder o momento.
E então corri; corri vários quarteirões para despistar o garçom que sacou o meu plano. Corri tanto que cheguei na Augusta. Oh sim, a Augusta, o paraíso dos poetas bêbados. Nem bem comecei minha andada e já me deparei com minha aspirante à bem amada. Oh sim outra rima... Agora elas brotam em minha mente tal como os cogumelos brotam nas bostas de vaca no despontar de cada manhã, pelos pastos verdes e vastos caminhando de mãos dadas com minha querida... Anã...? É...tudo bem. Não da pra rimar muita coisa com manhã.
Aproximo-me daquele ser esplendoroso de coxas grossas e sinta liga, saia curta e peitos fartos. Declamarei uma poesia fulminante que a trará direto aos meus braços... De qualquer forma... Melhor usar um clássico:
Meu coração
Não sei por quê
Bate feliz
Quando te vê...
- Qualé mané? Tá afim de um programa? Já vou avisando, só faço na cama. A não ser que seja só uma chupada, ai pode ser aqui mesmo na calçada.
Oh que emoção minha bem amada é uma poetiza. Hora de jogar pesado.

Quem me dera ser um peixe!
Para em seu límpido aquário mergulhar
Fazer borbulhas de amor à luz da lua
Passar a noite em claro
Dentro de ti...
- Tá cherado? Pô um pá mim então!
Bi Bi...(buzina)

Infelizmente descobri que minha bem amada não passava de uma meretriz. Abandonou-me pelo primeiro Corsa 93 que a abordou. Segui até outro bar, que sei: não tem grade na janela também. Pedi um conhaque, grafei em meu bloquinho a epopéia de minha noite solitária:

Em noite fria e gelada
O que incomoda é o assento da privada
Porém, usei esta pra fugir
Do bar e chegar a ti.

Quando enfim lhe encontro
Com sua bolsa a rodar
Descubro que fazias ponto
Era preciso pagar

Porém não sou freguês
Soi amante apaixonado
Partiste num Corsa 93
Deixaste-me de lado

Em novo bar agora estou
E na mente sempre ela
A merda é que o dono se ligou
E pos grades na janela.

Leonard Tristem

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