Ela me torturava com o olhar que não me encontrava. Não posso porém lhe dirigir culpa, uma vez que é impossível desenhar num lugar olhando para outro. O quadro de desenhos coletivos era ocupado por pseudo-desenhistas e pintores que disputavam cada centímetro da grande tela que ocupava o pátio da faculdade naquele sábado ensolarado. A teria convidado para uma cerveja caso não transparecesse tanto gosto pelo pincel; tive de eu me engendrar na pintura, e custei a encontrar um canto para rabiscar e dessa forma forçar a ela a percepção de minha presença.
Engraçada a volatilidade da intenção do amor em relação à situação; por vezes a segui sem que a deixasse perceber-me e, no entanto, hoje desbravei os caminhos ocupados pelos espectadores desocupados, furtei de um estojo um lápis, um 6B, e me digladiei com os que a circundavam num afã que não me cabia. Tanto lutei, que acabei por borrar o desenho de um pintorzinho metido a besta, com minha calça. Sob desculpas e perdões absortos me aproximei de meu objetivo: ela.
Sua compenetração me remetia à imagem de um psicógrafo incorporado que não só não enxerga o mundo ao redor de seu trabalho espiritual, como também não está nele. Entrei no espírito; imaginando que talvez meu talento artístico atraísse a atenção dos espectadores, atraindo consequentemente a dela. Incorporei também.
Comecei por olhos extremamente sombreados e delineados em seus contornos. Os cílios longitudinais contemplavam a íris brilhante e negra, dando-lhe um ar oriental no sentido misterioso do feitio. Desci lépido ao nariz fino, não arrebitado, mas com personalidade sem deixar de ser feminino; com a ponta de meus dedos delineei o contorno que me levava a boca, entreaberta como as bocas que suplicam por outra pedindo o beijo. Era uma boca rosada mesmo em preto e branco. No contorno do rosto, utilizei da mesma técnica, e a suavidade com a qual ele se acentuou, fino, com as maçãs ressaltadas docemente, pedia a carícia da mão amada. Os cabelos negríssimos e lisos eram poesia em seu brilho e construção; presos numa forma desarrumada fincado por uma caneta, deixavam de fora uma pontinha de orelha de onde pendia um brinco artesanal que fazia lembrar um apanhador de sonhos. Ele culminava no início de seu pescoço, um caminho sem volta, uma terra de ninguém.
Era uma obra de arte. Tomei distância para contemplá-la e me perguntava como era possível não apaixonar-se perdidamente; trombei em alguém. Era ela, Atentando ao desenho, e deixando uma lágrima entregar seus sentimentos mais âmagonais, pois, ela olhando para a tela, era como se olhasse ao espelho. Entreolhou-me com espanto, aproximei-me novamente da tela, que nesse momento já estava vazia pelo ardor que meu desenho causara àquelas mãos inexperientes que me circundavam, grafei ao olho esquerdo do desenho a lágrima que jazia no rosto de minha bem-amada; e beijei a mulher de grafite, borrando a tela.
Engraçada a volatilidade da intenção do amor em relação à situação; por vezes a segui sem que a deixasse perceber-me e, no entanto, hoje desbravei os caminhos ocupados pelos espectadores desocupados, furtei de um estojo um lápis, um 6B, e me digladiei com os que a circundavam num afã que não me cabia. Tanto lutei, que acabei por borrar o desenho de um pintorzinho metido a besta, com minha calça. Sob desculpas e perdões absortos me aproximei de meu objetivo: ela.
Sua compenetração me remetia à imagem de um psicógrafo incorporado que não só não enxerga o mundo ao redor de seu trabalho espiritual, como também não está nele. Entrei no espírito; imaginando que talvez meu talento artístico atraísse a atenção dos espectadores, atraindo consequentemente a dela. Incorporei também.
Comecei por olhos extremamente sombreados e delineados em seus contornos. Os cílios longitudinais contemplavam a íris brilhante e negra, dando-lhe um ar oriental no sentido misterioso do feitio. Desci lépido ao nariz fino, não arrebitado, mas com personalidade sem deixar de ser feminino; com a ponta de meus dedos delineei o contorno que me levava a boca, entreaberta como as bocas que suplicam por outra pedindo o beijo. Era uma boca rosada mesmo em preto e branco. No contorno do rosto, utilizei da mesma técnica, e a suavidade com a qual ele se acentuou, fino, com as maçãs ressaltadas docemente, pedia a carícia da mão amada. Os cabelos negríssimos e lisos eram poesia em seu brilho e construção; presos numa forma desarrumada fincado por uma caneta, deixavam de fora uma pontinha de orelha de onde pendia um brinco artesanal que fazia lembrar um apanhador de sonhos. Ele culminava no início de seu pescoço, um caminho sem volta, uma terra de ninguém.
Era uma obra de arte. Tomei distância para contemplá-la e me perguntava como era possível não apaixonar-se perdidamente; trombei em alguém. Era ela, Atentando ao desenho, e deixando uma lágrima entregar seus sentimentos mais âmagonais, pois, ela olhando para a tela, era como se olhasse ao espelho. Entreolhou-me com espanto, aproximei-me novamente da tela, que nesse momento já estava vazia pelo ardor que meu desenho causara àquelas mãos inexperientes que me circundavam, grafei ao olho esquerdo do desenho a lágrima que jazia no rosto de minha bem-amada; e beijei a mulher de grafite, borrando a tela.
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